Um-dó-li-tá… turista ou viajante?
Adoro viajar, conhecer novas culturas, explorar outros mapas (seja em que latitude for) e arrepia-me a rotulagem egoica (já partilhei contigo no “Mães do Mundo” que opto por deixar os rótulos nos supermercados) de turista ou viajante… Ainda assim, criei a minha definição, livre de julgamentos.
Todos os anos faço pelo menos uma viagem sozinha, uma viagem a dois e várias em família (este ano quero ter tempo para partilhar contigo o mais relevante de cada uma), para não mencionar as que faço em trabalho.
Todas são diferentes e não seria de esperar outra coisa. Só existe um momento, é este, precisamente este. Em todas as viagens, aprendo a conhecer-me ainda mais profundamente. Aprendo a esvaziar a mochila de crenças limitadoras. E sinto mesmo que todos temos uma alma mista de turista e viajante.
Acredito que só quando permites conhecer-te, explorar o teu mundo, as tuas crenças, sem julgamentos, com aceitação e amor próprio, quando fazes do teu corpo e mente casa, então sim, podes dizer que és viajante. Até lá, és turista de ti e do mundo.
Quando a capacidade de ressoar (com as alegrias e tristezas do outro) emergir em ti, então quer dizer que desenvolveste a consciência de que estás conectado com algo muito maior. És capaz de transformar em ti o que sentes ser necessário e levar ao mundo um pouco mais do que ali faltava.
Há dias, em Copenhaga, dei comigo a tecer duros julgamentos a Christiania. Conhecida como a cidade livre, esta é uma comunidade que se diz independente, ocupada por hippies, artistas, anarquistas e músicos. Apesar de eu estar ligada à UCSC e estar por isso habituada ao ambiente hippie e artístico de Santa Cruz, na Califórnia, ali, precisamente em Christiania, na “minha Europa” emergiu repulsa em mim. Foi tempo de voltar os holofotes para dentro e praticar a compaixão para comigo! E é disto que te falo. Estar consciente de cada momento, de cada emoção que está em ti. Teres consciência do que fazes, como e porquê. Até porque, a forma como fazes uma coisa é o molde para todas as outras.
Sabes o que aconteceu? Quando levei a mim a compaixão (por sentir o que senti), fi-lo de olhos cerrados e quando os abri, passou por mim um habitante de Christiania que esboçou um dos sorrisos mais ternos que alguma vez recebi. Compaixão gera compaixão, amor gera amor.
Como sabes se estás em modo turista ou viajante?
Quando és viajante, observas cada momento sem quereres mudar o que quer que seja. Observas:
- O que acontece?
- Como te sentes em relação a isso?
- O que vês?
- O que ouves?
- Dás-te permissão para que este momento seja exactamente como é e que tu sejas exactamente como és. Está tudo na tua mente. Está tudo certo. Confia em ti, confia na tua presença.
O que pode acontecer se fores mais flexivel no roteiro da tua vida, da tua viagem, se deixares o relógio em casa, se permitires que o ‘field’ te guie, sem correrias, com a intensidade digna de cada momento que é único e irrepetível?
O que pode acontecer se observares em vez de olhares, se escutares em vez de ouvires, se registares no olfacto os aromas, se estiveres verdadeiramente presente num lugar em vez de picares o ponto em 10?
Em cada viajante há um turista e em cada turista há uma alma de viajante que quer emergir. A alma de turista acredita que precisa de viajar para ser feliz, a de viajante acredita que é feliz em todos os momentos, em todos os lugares e sabe que a grande viagem se faz de dentro para fora, que é dando que se recebe e que, quer venha da Austrália ou do virar da esquina regressa sempre mais rico.
Boas viagens!