Em tempos de Covid-19, as práticas anti-vírus oferecidas pela Parentalidade Generativa
Hoje, assinalamos precisamente duas semanas de quarentena voluntária nesta caminhada em tempos de Covid-19, que atravessamos com recurso às práticas conscientes, autênticos anti-vírus que oferece a Parentalidade Generativa.
Começo com uma crença e que partilho com Osho, acerca das infinitas possibilidades que as crianças trazem em si: “Cada criança nasce com possibilidades tão grandes, com tanto potencial que se tiver permissão e for auxiliada a desenvolver a própria individualidade sem qualquer impedimento vindo dos outros, teremos um mundo lindo, teremos muitos Budas, muitos Jesuses, teremos uma tremenda variedade de génios.”
Aqui, a primeira semana foi de explicação, investigação, aceitação, abrandar ritmos e rotinas. É importante perceber o que é um vírus, que estes e os seres humanos interagem em evolução e que nem todos são nocivos, pelo contrário. Para nos auxiliar no processo, recorremos a uma série que eu devorava em miúda, “Era uma vez a Vida”. Estamos a utilizar a terminologia Covid – 19 ou Coronavirus, em vez de “inimigo invisível” e “guerra”.
Comecei por cancelar a formação até ao final de Abril. Optámos por permitir que o relógio biológico das nossas filhas fosse o despertador delas, que escolhessem livremente actividades, jogos, livros… O acesso aos iPad’s e à televisão é livre, controlado pelas mesmas (ainda que saibamos o que estão a ver). A selecção que fizeram é francamente interessante e reduzida. Passaram a preparar os pequenos-almoços, lanches, a estarem presentes e a opinarem quando fazemos a lista de compras de supermercado (o pai sai uma a duas vezes por semana com essa finalidade). Participam ainda mais, nas lides domésticas, com satisfação, porque escolhem o que cada uma gosta de fazer, sentindo que contribuem para o bem-estar de todos.
Na transição das semanas, celebrámos o aniversário daquela que nos tornou pais, a nossa primeira filha. 13 anos a caminhar na sua sabedoria e dons, a aprender com ela, a humildade, a perfeição das imperfeições, às quais muitos insistem em chamar de defeito, a sorrir dos enganos e a deixar de parte as idealizações. Sem conformismo e com tanta esperança.
Esta segunda semana tem sido de introdução aos trabalhos da escola, aulas virtuais, terapias à distância. O saldo é positivo. No início, a mais nova apresentou resistências aos T.P.C. e a criatividade e paciência foram mesmo as grandes mestras aliadas.
Descobrimos ninhos, novas espécies de pássaros, flores e plantas no nosso jardim. Já conseguimos identificar cinco chilreares diferentes. Pintamos mandalas, fazemos desenhos à vista, alteramos as histórias de grande parte das princesas Disney e criamos outras. Recuperamos livros e encomendamos novos. E também saímos dos carris, fazemos travagens a fundo…
Quais as práticas da Parentalidade Generativa mais presentes nestes tempos de Covid – 19?
Com toda a certeza, a flexibilidade, as intenções a igual dignidade e valor. Se a estas juntarem a prática dos principais pressupostos da PNL, têm meio caminho percorrido.
A primeira coisa que faço, ao acordar, é encontrar o meu centro (através do exercício de centramento que vos descrevo no “Gurus de Palmo e Meio”), colocando a minha intenção para o dia que começa. A partir daí expandem-se horizontes.
Tem sido mais desafiante coordenar a nossa vida profissional, sobretudo porque tanto o pai, quanto eu, trabalhamos com países de vários continentes, com fusos horários tão distintos. Além disso, as actividades das duas, ainda precisam de apoio da nossa parte, mas não é o fim do mundo. É possível. Mais uma vez, muita flexibilidade e bom-senso. Esta é uma situação global, é por isso mais fácil ganhar a compreensão e empatia de todas as partes envolvidas no processo. E não, não temos uma lista de tarefas e horários atribuídos, a não ser os dias e horários das telechamadas com as professoras e terapeutas.
Conversamos com os avós, familiares e amigos, em todo o mundo, através de vídeo. Uma forma de estar que semeámos quando vivíamos além continentes.
Isto é o que até agora, tem funcionado connosco. Já com outras famílias generativas, tem resultado manterem os horários da rotina da escola, refeições e criarem uma tabela de actividades. E está tudo certo. Deve é fazer sentido a cada família! Ir ao encontro das intenções, valores e do que querem ver no mundo.
E seja qual for a vossa escolha, o tédio, birras, brigas e amuos farão parte dos vossos dias. Assim como as alegrias, alianças, reconciliações e pazes. Dia e noite. Chama-se vida.
Este momento da humanidade pode ser a melhor escola de seres humanos inteiros, a que algum dia teremos acesso. Há um texto de Natalia Ginzburg em que nos diz: “Não há casa nenhuma que hoje em dia tenha as coisas todas intactas, arrumadas, que não tenha sinais de um sofrimento, que não tenha a memória de uma guerra, de uma deportação ou de um regresso difícil.” Faz parte da caminhada. É assim que aprendemos a levantar-nos, reerguermo-nos e recomeçarmos, conscientes.
Desejo-vos presença e resiliência para os dias mais desafiantes. Na certeza de que, também o Covid – 19, este Coronavirus se transformará. E este é um momento óptimo para nutrirmos auto-estima e auto-confiança, em nós e nos nossos filhos:
Lembro apenas que estar confinado a quatro paredes, não é sinónimo de exclusão, pelo contrário. Podemos e devemos contribuir como pudermos, para diminuir distâncias, criando aproximação e ajuda ao próximo. São gestos de amor e generosidade que os nossos filhos modelam e inscrevem no seu adn.
Estes são dois movimentos, criados para acudir aos que mais precisam nesta hora e não só: idosos, doentes e outros:
Que a única pandemia seja a do amor generativo e da generosidade! Que nos realizemos neste tráfego relacional que nos chega do alto, aproxima e reenvia continuamente desde a nossa interioridade para os outros.
Já agora, como querem que daqui a dez anos (por exemplo), os vossos filhos vos recordem durante estes tempos?