Peter Levine • Rita Aleluia https://www.ritaaleluia.com/tag/peter-levine/ Awakening People Tue, 05 Apr 2022 09:09:20 +0000 pt-PT hourly 1 https://www.ritaaleluia.com/wp-content/uploads/2020/11/cropped-favicon-2020-32x32.png Peter Levine • Rita Aleluia https://www.ritaaleluia.com/tag/peter-levine/ 32 32 O corpo diz o que as palavras não podem dizer https://www.ritaaleluia.com/corpo-diz-que-palavras-nao-podem-dizer/ https://www.ritaaleluia.com/corpo-diz-que-palavras-nao-podem-dizer/#respond Tue, 05 Apr 2022 09:08:23 +0000 https://www.ritaaleluia.com/?p=9205 Antes de sermos verbo, somos corpo. Ele não mente! Guarda memórias e dá-nos sinais constantes que é preciso decifrar para navegar em harmonia na vida. Como nos relacionamos com ele? No episódio desta semana, a conversa ESSENCIAL entre a Dra Sandra Amado e Rita Aleluia.

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Viva! Bem-vindos ao primeiro podcast no mundo a utilizar as lentes da parentalidade generativa. Obrigada a cada um de vós que regressa semanalmente para escutar, reflectir, desaprender, aprender e transformar. Num processo continuo de reparentalidade, unidade e crescimento.

Adoro poder sentar-me com pessoas que trazem a sua voz única ao mundo, que são a diferença que faz a diferença. Pessoas centradas no coração, conectadas consigo próprias, com os demais e a caminhar no exemplo que querem ver no mundo. É uma bênção poder partilhar convosco a sapiência que elas nos trazem.

Como a nossa convidada de hoje. Ela é nada mais, nada menos que a Sandra Amado. Além de um ser humano incrível, é mulher e mãe de um guru que lhe faz jus, pois claro. Especialista na inteligência do corpo, na mente somática é ainda professora do ensino superior, na Escola Superior de Saúde, do Politécnico de Leiria, investigadora, entre outras coisas.

Bem-vinda ao ESSENCIAL, Sandra! Obrigada por entregares parte do teu precioso tempo para partilhares connosco esta mensagem tão essencial, tão urgente, sobre o corpo.

S.A – Obrigada Rita. Eu é que agradeço este convite surpreendente. É um gosto poder participar neste projecto que é entregue com tanto amore tão necessário, para todos nós, pais, mães, educadores e no fundo, seres humanos, que estamos aqui para nos tornamos seres melhores.

R.A – Obrigada, Sandra. Como sabes a vivência da parentalidade generativa integra a consciência e vivência do corpo, através da sintaxe somática. Para quem nos escuta e lê – no episódio transcrito no blogue do meu site, em www.ritaaleluia.com – e ainda não está familiarizado com esta linguagem, quero lembrar que nós somos energia e o corpo é um sistema de representação. A sintaxe somática revela-nos como é que os movimentos do corpo estão conectados com as nossas emoções e pensamentos – mostra-nos a forma como descodificamos as mensagens da mente inconsciente, submersas no corpo e as transformamos. Este trabalho tem eu diria que uma mãe e um pai: a nossa querida Judith DeLozier, a mãe da programação neurolinguística e o Dr. Peter Levine.

Mente e corpo são na verdade um só, já falamos disto no 1.º episódio, estão interconectados, são inseparáveis. Hoje, a neuro-fisiologia já o demonstra com evidências inegáveis e outras áreas da ciência, também.

O corpo é sábio. Codifica, descodifica, aprende, tem memória. Aliás, os princípios fundamentais da sintaxe somática são precisamente o facto de que:

  • o corpo fala uma linguagem que é tão refinada, sistemática e completa quanto a linguagem verbal;
  • está em comunicação constante com sua mente consciente, principalmente no que diz respeito a questões de saúde, bem-estar emocional e segurança;
  • é infinitamente sábio e inteligente;
  • armazena informações, conhecimento e memórias nos músculos e no tecido conjuntivo.

Sandra, o que partilhas sobre tudo isto?

S.A – Tudo o que tu disseste é extremamente importante e fico muito feliz de finalmente, poder-se falar de uma forma tão clara e explicita de algo que é tão natural em nós. Eu acrescentaria uma pessoa às pessoas que já referiste, que eu respeito e admiro imenso, o nosso neurocientista António Damásio, em particular um livro que ele lançou recentemente, o “Sentir e Saber“, que nos traz muito conhecimento, numa linguagem muito prática e descomplicada. Onde ele refere, efectivamente, que o princípio não foram as palavras. A nossa primeira linguagem não é de facto a palavra. A nossa primeira linguagem está muito mais relacionada com o movimento. E se formos um bocadinho à embriogénese, e percebermos que o nosso maior órgão é a pele e que logo a seguir vem o sistema nervoso central e que logo a seguir vem o coração, eu acho que o raciocínio é simples. Toda aquela interocepção, todo aquele sistema nervoso dos órgãos começam logo aí. Quando nascemos não sabemos falar, sabemos chorar e aí, se calhar, vem uma representação de dor e todo o nosso desenvolvimento deveria ser no sentido de nos conhecermos a nós próprios, começando pelo corpo.

R.A – Somos seres espirituais incorporados, não é?

S.A – Sim, sim!

R.A – Eu acredito nisso. Somos energia. Somos movimento.

S.A – Claro que somos! Somos, sim! Isso é inegável. Quando nos debruçamos sobre a origem da vida, vem de algum lado e essa faísca, essa energia que gera tudo o resto, essa foça, efectivamente depois ganha forma e essa forma é o nosso corpo. E portanto, devemos amá-lo, em primeiro lugar!

R.A – É um templo. É muito interessante pensar que quando somos bebés produzimos milhares de movimentos involuntários por minuto, à medida que crescemos vamos percebendo quais as funções dos membros, mãos, braços, pernas, também os movimentos, vamos tendo outro tipo de controlo e diminuindo os movimentos… Depois quando começamos a ser alfabetizados e em particular, quando entramos para uma escola, para o 1.º ciclo, onde nos são pedidas muitas horas de estar sentado, atentos às palavras, ao raciocínio lógico, parece-me que é o primeiro passo para a desconexão do corpo com a cabeça, da cabeça com o corpo e começamos a perder consciência do nosso corpo. Concordas?

S.A – Sim, sim concordo! E mais do que concordar, a ciência já nos traz essa sabedoria, também, essa evidência. Ainda bem que trazes esse assunto porque é algo que, desde que fui mãe fiquei mais desperta para ele, naturalmente, eles são os nossos gurus, trazem-nos sempre algo para o qual não estamos preparados, e de facto, essa fase em que entramos na escola é marcante que em algumas situações pode até ser traumatizante e devemos estar todos despertos e disponíveis. Também dizer que a minha visão e percepção sobre esse assunto está relacionada com um outro autor, Daniel H. Pink que lançou um livro muito interessante que é um manual sobre a nova inteligência. Se fizermos uma retrospectiva sobre o que foi o nosso desenvolvimento enquanto seres humanos e inteligentes, estamos agora a entrar numa nova era, a da conceptualização e viemos de uma era industrial, de uma era de agricultura. Há todo um processo de mudança que acredito estar a acontecer, não no ritmo que gostaríamos, mas que essa mudança vai criar o espaço para esta nova inteligência, muito mais associada à criatividade, muito mais associada ao hemisfério direito, muito mais abstrata, que vejo interesse por parte dos profissionais das escolas, mas depois não existe todo um contexto social que esteja preparado. E acho que estas iniciativas são óptimas para conseguirmos, cada um de nós, no nosso pequeno mundo fazer a diferença.

R.A – Sim. Eu costumo dizer que é pessoa a pessoa, família a família, comunidade a comunidade e o mundo avança.

S.A – Tal e qual!

R.A – Em famílias e organizações que ainda não praticam parentalidade generativa, acontece muitas vezes, perante um acontecimento doloroso da vida, agir como se não fosse importante. Por exemplo, quando alguém que amamos morre, ou quando somos feridos ou violados na nossa integridade, podemos agir como se nada tivesse acontecido, porque as emoções que acompanham o verdadeiro reconhecimento da situação são muito dolorosas. Esta dissociação pode ser sentida como parte do corpo desconectada ou quase ausente. E é assim que se programam, inconscientemente, crianças para o stress e outras patologias. Por exemplo, de repente, aparece uma dor que se torna crónica e voilá, ela representa precisamente essa parte do corpo que foi dissociada. Conheço bem, por experiência própria. Sem entrar em pormenores posso partilhar qu não soube fazer o luto da partida da minha irmã, até há um tempo atrás. Ela era uma jovem de 19 anos, com muita energia vital, com vontade de ser e fazer a diferença no mundo, e a fazer de facto já muitas coisas, com imensos projectos e, de repente, há um diagnóstico e em 10 meses, há um sofrimento que é inconcebível para nós, enquanto seres humanos e ela parte. Nesse momento a minha preocupação foi estar “inteira” para acompanhar os meus pais que ficavam só comigo e sei hoje, e senti também na altura, que eles fizeram o mesmo. E não vivenciei o luto como deveria e já mais tarde, já com a vivência da programação neurolinguística generativa comecei a prestar atenção às sensações que se manifestavam no meu corpo, a interpretar o que poderiam ser ou não e ainda assim, a resistir. De um dia para o outro, quando estou relaxada, em férias, aparecem umas pintinhas brancas no corpo. Assustei-me porque no dia seguinte tinha mais e no terceiro dia, ainda mais. Marquei logo uma consulta e quando cheguei a Portugal foi quase sair do avião e ir para o dermatologista. Eu já tinha feito pesquisas no Google, ia mais ou menos preparada. O médico disse-me: “tenho uma má notícia para lhe dar. Claro que me conectei à história pessoal e senti medo. Mas ele, disse-me logo: “tem vitiligo”. Fiquei tranquila e o médico insistiu: “ouça, é uma doença auto-imune, é crónica e é para a vida, não tem cura!” A forma como às vezes, os profissionais da área da saúde informam um paciente faz diferença! E tu trabalhas isto todos os dias, treinas, ensinas profissionais de saúde. É verdade que eu não cuidei do meu corpo, não o escutei, amordacei-o. Mas também só soube o que era de facto uma doença auto-imune quando a consultei uma médica de medicina ortomolecular que me esclareceu: “atenção, não tens nenhuma doença, tens emoções não vivenciadas e um terreno fértil, um ambiente, que é propício a que quando estás em desarmonia, no teu corpo, então, pode manifestar-se em forma de doença auto-imune.” Sandra, como é que se treina um profissional da área da saúde para a epigenética, para a influência dos pensamentos, crenças, emoções?

S.A – É muito bom trazeres essa questão porque isso remete-me para o que hoje se chama ciência subjctiva, que ganha cada vez mais espaço e fico muito feliz com isso, e que dá origem a modelos de saúde nos quais deveremos assentar o conhecimento nos novos profissionais de saúde. Esses modelos dizem-nos que os cuidados devem ser centrados na pessoa e que na base da relação terapêutica estão as crenças da própria pessoa. Portanto, as crenças passam a estar consideradas no próprio modelo. A partir do momento em que esta questão é colocada no modelo explicativo só faz sentido termos cuidado com a linguagem com que falamos com a pessoa com a qual estamos a relacionar-nos, que pode ser uma pessoa com uma doença ou pode ser simplesmente uma pessoa que vem à procura de um conselho. O novo conceito de saúde que está muito relacionado com o bem-estar, à prevenção e ao empoderamento da pessoa para decidir aquilo que é melhor para si. Porque o que tu fizeste é o que todos nós fazemos, vamos ao dr. Google e acedemos a toda a informação disponível, e tu sabes melhor que eu que na era da informação temos de ter um sentido muito critico, e portanto, o treino destes profissionais assenta no modelo que hoje, já podemos falar como estou aqui a falar contigo, já não há um tabu: “ah não, porque aquilo já não é uma medicina aceite”, não, é aceite! É aceite! São modelos integrativos, holísticos! Sim, podemos falar sobre isso e devemos considerar isso de uma forma clara na formação académica dos futuros profissionais. Tu levantas uma questão relativamente ao luto e a episódios marcantes, ficam presos no corpo, porque há uma descarga emocional tão intensa e tão difícil de gerir e a nossa inteligência emocional é activada aí e o que se tem passado é que essa vertente da inteligência emocional não é tão cuidada, partilhada, reconhecida. Eu confesso que da minha experiência como mãe, foi o desafio que o meu filho me trouxe. Foi efectivamente olhar com carinho, aceitar as emoções e nas vivências mais traumatizantes encontrar os recursos ou arranjar forma de que eles se activem, para que essa conexão com o corpo, com as emoções e com a mente seja algo natural e preventivo. Esse aspecto tem um potencial de prevenção gigantesco.

R.A – O corpo é sábio! E ele não utiliza as palavras que nós utilizamos e quando ele se manifesta, tendemos a calá-lo com palavras que verbalizamos dentro da nossa cabeça.

S.A – Sim e que representam algo que é diferente da tua representação e da minha representação e, portanto, o corpo fala efectivamente connosco! Nós é que estamos a aprender qual é o código de linguagem que ele tem para nós, não é?! E aí, a PNL, confesso que foi muito importante para mim.

R.A – A PNL generativa que é sistémica, onde aplicamos a sintaxe somática, o S.C.O.R.E dançante, que foi precisamente introduzido pela Judith DeLozier, pelo Robert Dilts, pelo Tod Epstein. Porque na sintaxe somática, a atenção foca-se na estrutura, na forma como os padrões emocionais se refletem no funcionamento do corpo e em como, a partir do corpo, construímos um Eu saudável, este Eu total. Portanto, escutarmos a ‘voz não verbalizada’ do nosso corpo, aquilo que o Dr. Peter Levine chama de “unspoken voice” (é um livro cuja leitura recomendo), é permitir que o corpo faça precisamente o que precisa fazer, a cada momento. Ou seja, investigamos as sensações internas, com curiosidade, sem julgamento. O que é que te parece?

S.A – Sim, e eu diria que esse é o caminho da consciência!

R.A – Até porque o corpo é considerado a mente inconsciente. Quando o calamos perpetuamos dor, trauma…

S.A – Isso! É extremamente importante haver essa aprendizagem que, atenção, vai mudando! O nosso corpo aos cinco anos pode ter uma linguagem perante o medo que nós percepcionamos diferente aos 20 anos, 40 anos.

R.A – Se somos energia, energia é movimento e não é constante, “tem” mesmo de ser assim.

S.A – Tem, tem e é muito importante a primeira experiência que temos dessa relação que nos remete para a infância.

R.A – e, ou para o útero, ou para a concepção, ou para sete gerações… Trabalhamos muito com a questão geracional na parentalidade generativa, com o trauma geracional, com o inconsciente colectivo e manifesta-se sempre no corpo. O momento que atravessamos globalmente, esta guerra é uma coisa… eu que sou bisneta de um combatente da grande guerra mundial, filha de um combatente da guerra do ultramar, ambos veteranos, ambos regressaram vivos e traumatizados. E ainda que não haja manifestações violentas, nunca presenciei com o meu pai e ele com o avô, pelo contrário, são pessoas carinhosas e muito atentas, mas sim, há manifestações no meu corpo. Antes deste conflito começar o meu corpo gritava e eu só dizia ao meu marido “algo muito grave vai acontecer no mundo”. Ele escutava e respondia que poderia ser algo ainda relacionado com a pandemia, ao que eu respondia que não, que era algo muito grave, global que me deixava profundamente inquieta… E logo nos primeiros movimentos começo a perceber o que é que eventualmente pode ser. Havendo esta consciência facilmente podemos prever o que vai acontecer e, portanto, não me surpreendi quando a invasão aconteceu. Era previsível! O meu corpo tinha-me avisado! O corpo sabe o que a cabeça não consegue saber.

S.A – Sim, ele sente, claramente! O que acontece hoje em dia é que refugiamo-nos na “falta de tempo”. Não temos tempo para nos ouvirmos, não temos tempo para nos auscultarmos. O processo que tu trazes, valiosíssimo, aprende-se e é mesmo muito importante!

R.A – Quanto mais praticamos mais aprendemos! O que eu acho muito interessante e olhando para a minha filha mais nova, que teve a sorte de nascer de uma mãe que já tinha começado a criar a parentalidade generativa, coisa que a primeira não teve e as diferenças são evidentes, mas lá está, estamos sempre a tempo e acho que não provoquei grandes danos, observando a minha filha, percebo que é mesmo muito intuitivo e inato, ela diz-me “mãe estou muito energética”, é a expressão que ela usa e começa a saltar, e vai para a cima da cama saltar e depois diz-me que “já está quase” e continua. Eu só respondo que é o tempo que precisar de ser e está tudo bem. A seguir, vem ter comigo e é outra! Centrada, serena, muito presente. Eles são gurus! Ter esta consciência de que tem energia que não está a gerir e a criar homeostase e saber o que funciona e fazer… O que é que tu dizes aos pais?

S.A – Ouçam! Tudo o que eles dizem é verdade, tem sentido, muitas vezes nem nós mesmos percebemos a dimensão do que eles estão a dizer. Este escutar, é o escutar…

R.A – Sim, na parentalidade generativa dizemos que é mesmo escutar: ouço, escuto, estou presente, sem julgamento.

S.A – Na área da saúde também dizemos, é a escuta activa. E este é o primeiro exercício que todos nós, sejam ou não pais…

R.A – Definitivamente! É um exercício de reparentar! Por exemplo, a parentalidade generativa não é sobre as crianças. É sobre nós adultos, acolhermos, integrarmos e transcendermos a nossa criança interior. As nossas feridas, as nossas partes, chamem-lhe o que quiserem… Mas é sobre nós, agora, aqui e agora!

S.A – Tal e qual! Isso! O meu filhote disse-me recentemente que precisava de ajuda. Disse-me que quando entrava em campo, em jogo – ele joga basquete – quando sentia mais pressão, sentia que ia desmaiar, que parecia que deixava de ouvir. A minha primeira reacção foi de ouvir, escutar e perceber o que é que ele me estava a dizer. Logo de seguida disse-lhe para ele experimentar alguns dos exercícios que nós fazemos: palpar o corpo, sentir o corpo e se não se sentisse bem assim, bater com os pés no chão para que fosse uma sensação real, mais intensa e para experimentar. Foi a semana passada. O que é facto é que ele chegou a casa super feliz por tinha conseguido ultrapassar algo que já não era a primeira vez que ele sentia. Portanto, escuta é o 1.º passo e o 2.º passo é o de criar uma conexão com o que está a acontecer com os nossos filhos e ensiná-los a amar o seu corpo, a ouvir o seu corpo, a conhecer o seu corpo, porque não basta sabermos no livro onde é que estão os órgãos internos, não basta percebermos como é que é a respiração, temos que experiencar, todos os momentos são bons para experienciar.

R.A – isso é muito interessante e remete-me para o facto de que só podemos fazer isso se praticarmos em nós. Não me adianta de nada dizer às minhas filhas para escutarem o corpo, para o horarem se depois, eu mão, não for disso exemplo…. Quero mesmo pedir-te um conselho para quem nos escuta, porá saber como fazer isso, às vezes é muito desafiante, não estamos habituados, não somos educados assim… Por exemplo, eu tive que fazer trabalho em mim, com o melhor que os meus pais podiam e sabiam fazer, a questão do corpo nunca foi um tema em casa, nem mesmo falarmos sobre emoções. Nunca me disseram “não chores”, mas também não me incentivaram a que as expresse publicamente. E é natural, estamos em evolução, não é?!

S.A – Sim, falar de emoções e permitir o choro era algo de não se fazia. Regra geral, não… Em Portugal…

R.A – Em Portugal não, em Espanha não, em Itália também não. Aliás, é interessante, porque por onde eu tenho vindo a trabalhar no mundo, são poucos os países que o fazem. Mesmo nos países escandinavos. Eu tenho amigas e colegas suecas que tiveram esta experiência de vivenciar as emoções e tenho outras finlandesas, que nem por isso. Na Finlândia estão agora a braços com a questão do aumento do suicido na adolescência e jovens adultos. E neste momento, estão a chegar à conclusão de que criaram as condições óptimas para que corresse tudo bem, as emoções experienciadas eram sempre muito boas, até que chega a adolescência e a revolução hormonal e não sabem lidar com isso. Começam a surgir as primeiras emoções degenerativas e não sabem lidar com isto. É por isso que quero muito que nos digas, aos pais deste mundo, professores, a todos, que temos uma criança aqui dentro: como é que fazemos isto?

S.A – Reconhecer fisicamente e emocionalmente o nosso interior e é verdadeiramente o nosso interior, porque existem sensores interiores e as emoções refletem de facto, os nossos sentimentos. A emoção, depois os sentimentos e temos mesmo que os reconhecer. Reconhecer o nosso corpo, por exemplo tomar banho pode ser algo mais consciente, sentir o nosso corpo, o aplicar o creme, de forma mais consciente. Quando estamos connosco, estamos verdadeiramente connosco, com o nosso templo. As emoções e os sentimentos, eu aconselho a escrevermos, a fazermos journaling, no fim do dia escrever qual foi a emoção e o sentimento mais dominante.

R.A – Vai ao encontro do 2.º episódio. Se ainda não escutaram esse episódio do ESSENCIAL, podem fazê-lo e aprender mais sobre emoções generativas e degenerativas. Nesse episódio entrego-vos um exercício poderoso para mapear as nossas emoções. Um exercício que nos mostra em que emoções passamos mais tempo e nos permite escolher, em consciência e direcionar a atenção, para quais as emoções onde queremos viver presentes. E no 3.º episódio encontram uma meditação breve para conectar com o coração, com emoções generativas, com a intenção de gerar bem-estar físico, emocional e espiritual. Experimentem. Só assim sabem se funciona e como funciona.

S.A – Perfeito! Porque esse jounaling de facto, depois tem um outro impacto quando é trabalhado da forma que estás a dizer, de uma forma consciente, conectas o nosso coração com o nosso grande cérebro que mapeia tudo, não é?

R.A – Não sei se ele é assim tão grande… é em termos de tamanho e dos trabalhos em que nos mete…

S.A – Pois mete! De facto, o coração em termos de nervos, de enervação não fica atrás, antes pelo contrário.

R.A – Pois não. É pequenino, mas é o gerador biomagético mais poderoso do corpo humano, que conecta com o campo electromagnético da Terra. Isto diz tudo! Estavas a falar em reconhecermos, honrarmos… e isso remete-me para a questão mais feminina de crescermos a ouvir “tira a mão daí, aí não se mexe, isso não se mostra, ai que horror”… E aqui estou mesmo a falar das nossas partes mais íntimas. Mesmo a nível sexual, como é que podemos esperar que alguém consiga satisfazer uma necessidade sexual que temos se nem nós próprios sabemos como é que isso acontece connosco, como é que é esse movimento, como é que o activamos, como é que o experienciamos, como é que o expandimos até ao outro…

S.A – E isso remete-nos para a fase em que conhecemos o prazer e que é uma fase tão importante. Conhecemos o que está associado à dor, é algo que é natural, o parto que já não é tanto, mas ainda é de dor… e nessa fase assumimos verdadeiramente a parte do prazer e é verdadeiramente importante descobrimo-nos nessas emoções generativas que depois estão associadas ao prazer.

R.A – Que deveriam ser generativas, porque de facto, é um nível de conexão incrível entre dois corpos, entre dois espíritos. E muitas vezes torna-se numa relação degenerativa sem necessidade e porque não temos esta consciência do corpo.

S.A – O toque é muito importante, o auto-toque.

R.A – E para que isso aconteça temos de estar libertos de muita carga emocional presa no corpo, de muito trauma…

S.A – E para isso temos de reconhecer, temos de fazer o reconhecimento desta linguagem corporal. A dor na cervical ou na lombar, ou num pé ou num ombro, por vezes, na grande maioria das vezes está nalguma emoção que nós não acolhemos, que não reconhecemos, que se perpetua e que ganha uma dimensão mais crónica. A dor crónica chega a ter representação no nosso cérebro, atrofia a massa cinzenta, está documentado e vale mesmo a pena ver outras alternativas às respostas bio. “É uma inflamação”, sim, mas a inflamação vem de onde? Por vezes vem de um medo.

R.A – A inflamação é um sintoma e aqui voltamos ao S.C.O.R.E. da programação neurolinguística generativa, é um sintoma!

S.A – E às vezes, está num passado bem longínquo, como já o disseste e vale a pena exploramos e conhecermo-nos: auto-conhecimento! O reconhecer é central, o escutar é importantíssimo. Quando falo em auto-conhecimento falo em formação. É um querer conhecermo-nos, ter conhecimento, ir à procura das ferramentas, não ter vergonha de dizer que aos 40 anos está a aprender a descodificar e a perceber o que quer dizer… Não ter problemas com isso!

R.A – Nós na NLP University, na California, temos alunos com 80 anos. Imagina eu, com 45, a dar aulas a pessoas de 80?! As turmas são muito transversais. Há três anos tivemos uma aluna com 16 anos, um senhor com 80, uma senhora com 77… E é tão bonito. A perspectiva que têm da vida, a consciência… As descobertas que fazem agora… lá está, através do corpo, de dançar este movimento que nos habita e é tão belo, é libertar.

S.A – Até o ensino dos próprios valores às nossas crianças pode começar com o exercício do próprio corpo. A liberdade de poder andar descalça, a liberdade de poder andar com pouca roupa em casa, a liberdade experiencia-se também dessa forma. O respeito pelo seu próprio copo. Pode-se ensinar os próprios valores através desta relação com o corpo. A honestidade porque estás a ser honesta com o que estás a sentir e para isso tens de fazer o exercício de reconhecer.

R.A – O cuidar, esta emoção generativa tão bonita, a compaixão, e às vezes, tantas, maltratamos o corpo. Está tudo bem. Como é que eu fiz para não fazer diferente? E investigamos… Sandra, sei que esta é só a primeira de muitas conversas que vamos ter e agora peço-te que partilhes connosco um exercício para reconectarmos com o nosso corpo, a nossa casa. Aceitas o desafio?

S.A – Aceito, pois!

R.A – Vamos lá!

S.A – Convido-vos a fazerem o exercício de olhos abertos ou fechados, associado `s meditação, mas não tem necessariamente de ser meditação.

Respiramos fundo, três vezes. Permitindo que o ar entre, esta energia da vida, e deitar fora, expirar, expelindo tudo o que é tensões e emoções que estejam no nosso corpo. Vamos sentir o corpo. Colocando-nos numa posição confortável, vamos perceber se há pontos de tensão começando pelos ombros, o tronco, os braços, as pernas, os pés, vamos sentir…

Vamos respirar fundo e se houver algum ponto de tensão, observamos, acolhemos, reconhecemos… respirar fundo e quando expiramos libertamos essa tensão que existe, permitimos que ela já não esteja em nós, com carinho, respiramos fundo, isso…

Agora visualizamos uma chuva de luz branca, que nos banha completamente o corpo, passando pela cabeça, pelo pescoço, pelos ombros, os braços, o tronco, uma luz brilhante, branquinha… passa pelas pernas, vai até aos pés e que leva todo o resto da tensão que possa existir ainda. Permitimos que o corpo relaxe, que fique leve, isso mesmo… E agora, permitimos que entre uma luz pelo centro da cabeça que vai até à nossa coluna dorsal, que vai até ao sacro e se conecta com a terra, a nossa linha vertical e que é reforçada com as nossas raízes nos pés que vão descer pela Terra. Observamos que tudo está em harmonia. Já não há tensões, sentimos o nosso coração a bater, sentimos a nossa respiração, podemos colocar a mão no peito, isso… sentimos o calor, sentimos leveza e no nosso tempo, podemos regressar, abrir os olhos e olhar…

R.A – Tão bom!

S.A – É simples! Não tem de ser complicado!

R.A – Marcamos um segundo encontro para falar mais especificamente sobre como é que famílias e escolas podem trabalhar com as crianças a mente somática, este movimento que nos habita?!

S.A – Sim! Pode ser!

R.A – Sandra, muito, muito obrigada por seres e pelo tanto que nos entregas, diariamente. Estou muito feliz com esta nossa conversa ESSENCIAL! Com o deixar esta sementinha sobre a mente somática, sobre o corpo, porque o corpo não mente.

S.A – Não mente!

R.A – Que possamos todos ganhar consciência de que o passado vive em nós, inscrito no nosso corpo. Ganhar consciência e saber o que fazer com ela. Ou seja, a conectarmo-nos com as nossas memórias perceptivas, a memória que acontece no nosso corpo, com as sensações expressas pelo corpo e aprendermos a auto-regular-nos. Até lá, não conseguiremos sentir segurança, o corpo vai continuar a manifestar o que ainda quer ser acolhido, integrado, curado e continuaremos a percepcionar dificuldade nas nossas relações. Connosco, com os nossos filhos, com todos.

Os nossos filhos não vão sempre lembrar-se do que lhes dissemos. Mas vão para sempre lembrar-se de como os fizemos sentir. 

Encontramo-nos na próxima terça-feira, para entregar mais daquilo que acredito ser partilha de valor. Obrigada pela presença, pela abertura e curiosidade.

Escutem, leiam, pratiquem e se sentiram que valeu a pena, partilhem com mais pessoas.

Juntos co-criamos o essencial, um admirável e intencional mundo novo!

De coração!

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8 passos que criam resiliência na criança em situação de trauma https://www.ritaaleluia.com/8-passos-criam-resiliencia-crianca-situacao-trauma/ https://www.ritaaleluia.com/8-passos-criam-resiliencia-crianca-situacao-trauma/#respond Tue, 15 Jun 2021 08:42:12 +0000 https://www.ritaaleluia.com/?p=7802 8 passos da Parentalidade Generativa que auxiliam pais e educadores a ajudar as crianças em situação de trauma, stress e ansiedade, a criar resiliência.

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Este guia de oito passos, parte da Parentalidade Generativa (PG), ajuda adultos e crianças a criarem resiliência quando vivem uma situação de dor, stress ou trauma.

Há dias escrevi um artigo onde revelo a importância da consciência da existência do trauma na infância e hoje quero destacar que: quanto mais cedo a criança aprender a importância de acolher, integrar e transcender as experiências traumáticas, libertando a quantidade gigantesca de energia criada no corpo, quando exposta a situações adversas (dor, stress, trauma), melhor!

Energia presa no corpo torna-se distúrbio físico e emocional

Esta acumulação de energia aprisionada do trauma, é precisamente o que tende a gerar situações como o transtorno de stress pós-traumático (TSPT), ansiedade, depressão, doenças auto-imunes e um vasto leque de problemas de saúde. E isto é válido para crianças, jovens, adultos… para todos os seres humanos! Aprendi-o não só cognitivamente, como (sobretudo) por experiência própria.

Das melhores coisas que podemos fazer por nós e ser exemplo para os nossos filhos e demais, é permitir que o nosso corpo liberte naturalmente essa energia, seja através do choro ou de qualquer outra resposta natural que emerge quando sentimos emoções fortes. Só assim a energia flui no seu percurso natural, sem que fique presa no corpo.

Modelos somáticos da PNL que nos ajudam

A maior parte dos modelos e práticas que utilizamos na Parentalidade Generativa são da Programação Neurolinguística (PNL), com foco na 3.ª geração. Um deles é o modelo S.C.O.R.E (Sintoma, Causa, Outcome (resultado), Recursos e Efeito). No vídeo em baixo, a mãe da PNL, Judith DeLozier e co-criadora do modelo, juntamente com Robert Dilts, fala-nos de dois aspectos particulares desta dança.

O que gera trauma e como

O stress, a dor física e emocional, trauma e outras experiências adversas fazem parte da vida. Existem infinitas causas possíveis, sendo que um trauma pode decorrer em consequência de um evento emocionalmente forte que não foi ultrapassado, ficou preso no corpo ou até de algo que deveria acontecer e não aconteceu. Por exemplo, quando uma criança não encontra na família o porto seguro, a empatia e generosidade necessárias para aprender a conectar-se com quem é e com os demais. Os adultos podem e devem guiar as crianças no sentido de as manter seguras, de forma a que desenvolvam resiliência e acedam aos seus recursos internos para recuperar perante as adversidades.

O que é a RESILIÊNCIA

Antes de avançar para os oitos passos propostos pela Parentalidade Generativa – assentes em muito do trabalho somático de Judith DeLozier e do Dr. Peter Levine – para a criação de resiliência, quero mesmo esclarecer o que entendemos pela mesma:

É a capacidade que todos temos de voltar a casa (ao centro), de recuperar do stress, sentimentos de medo, insegurança e outras emoções adversas.

1. Investigar os movimentos que acontecem no corpo (do adulto que está com a criança)

As crianças sentem a energia (somos energia, somos campo). Nós também. É por isso importante que sintamos primeiro quais os movimentos que emergem no nosso corpo e observar, numa escala de 0 a 10, qual a intensidade do medo, preocupação que nos habita, colocando o foco no presente, respirando profundamente.

2. Avaliar a situação

Se a criança demonstrar sinais de ansiedade ou choque, por exemplo: respiração superficial, confusão, desorientação, olhos vidrados ou se apresentar uma reacção emocional excessiva, é importante transmitir-lhe uma mensagem que a tranquilize, de segurança, com uma tonalidade suave, empática, clara, confiante… de que estamos juntos e seguros.

3. À medida que o choque passa, orientar a atenção da criança para as sensações no próprio corpo

Ao sair do estado de choque, a respiração tende a voltar ao normal, o rosto recupera a sua cor habitual, os olhos voltam a focar. Nessa altura é importante direccionar a atenção da criança para os sentimentos e movimentos que emergem no seu próprio corpo. Perguntar à criança – depois de observar onde é que ela coloca as mãos no seu corpo:– Como te sentes na barriga, no coração, no peito (ou noutra área do corpo que tenha observado)?

Pedindo à criança para descrever ou dançar (é ok fazer só o gesto) o movimento dessa sensação. Pode ser que sinta borboletas, há crianças que sentem chamas ou até pedras…

As sensações físicas no corpo, provocadas pelo trauma, geram um aumento de energia que cria, quase sempre, desconforto e dor. Portanto, reconhecer e perceber em que área no corpo está situada, quais são os sentimentos e as emoções associadas, é o início do importante processo de libertação dessa energia.

4. Desacelerar e seguir o ritmo da criança, observando com curiosidade as mudanças

Cuidar da criança desde um estado de centramento, presença, desde e com o coração, de forma amorosa e paciente. Com curiosidade, sem julgamentos. E isto é essencial, para auxiliar no processo de movimentação e libertação da energia presa no corpo da criança.

5. Continuar a validar as respostas físicas da criança

Vários estudos demonstram que a reação natural de chorar e tremer após uma experiência assustadora (como um acidente, por exemplo) é o que permite as crianças recuperarem a longo prazo. Por isso, ajudá-las, passa por permitir que expressem livremente as suas emoções.

6. Confiar na capacidade inata de cura da criança

Centrados, em consciência, só temos que confiar que a criança é um santuário de amor e cura. A nossa responsabilidade é a de ficar presente com ela, em vez de distraí-la do que está a vivenciar.

7. Incentivar a criança a descansar

Depois de libertar a energia, através das lágrimas, tremores, dança dos movimentos…. é importante descansar e dormir. Através do relaxamento dá-se o retorno à harmonia. Dormir e descansar é parte deste importante processo de cura.

8. Atender às respostas emocionais da criança ajudando-a a entender o que aconteceu

Depois da criança ter descansado, quando já estiver calma, é um bom momento para a incentivar a partilhar a experiência. Dependendo da idade e dos sistemas de representação preferidos (visual, auditivo, cinestésico) podemos pedir-lhes que façam um desenho, contem uma história ou até, que façam um teatro…

É importante que as crianças percebam que os sentimentos que as estão a habitar, como vergonha, medo, raiva, preocupação, constrangimento e outras emoções dolorosas são normais. Podemos partilhar com elas que já passamos por situações e sentimentos semelhantes. Pode acontecer que ao fazer a partilha, os sentimentos intensos apareçam novamente. Se acontecer, repetimos os passos anteriores, permitindo a libertação de energia ainda contida, sempre na presença de uma mãe, pai (de um adulto) empático.

Duas perguntas que faço nas minha sessões

A narrativa do corpo dispensa palavras. Ela é suficiente e fundamental porque não pode enganar, emerge do inconsciente:

  • Em que parte do corpo sente isso?
  • O que acontece quando presta atenção a essa parte do corpo?

Livros que ajudam a compreender e tratar o trauma

Hoje recomendo apenas um livro nesta área (dos mais de 15 que tenho) e cuja leitura recomendo vivamente, é: How the body releases trauma and restores goodness, Levine, P. (2010). In an unspoken voice:. Berkeley, CA: North Atlantic Books

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A consciência do Trauma na Parentalidade & Educação https://www.ritaaleluia.com/consciencia-trauma-parentalidade-educacao/ https://www.ritaaleluia.com/consciencia-trauma-parentalidade-educacao/#respond Wed, 09 Jun 2021 17:20:41 +0000 https://www.ritaaleluia.com/?p=7749 A consciência do Trauma na Parentalidade & Educação é a forma mais rápida de curar e prevenir dor e sofrimento desnecessário. E é por isso que é um tema da Parentalidade Generativa.

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Hoje recupero uma newsletter antiga, reeditada agora e inspirada na The Wisdom of Trauma Talks on Trauma Series que ontem teve início, com o Dr. Gabor Maté. (de quem fui aluna e costumo dizer, serei sempre) para vos falar de trauma na parentalidade & educação – do que é, como se manifesta – com a intenção de elevar ainda mais consciências para a sua existência, e para o facto de que não só é possível prevenir, como curar. Esta consciência permite curar as famílias e prevenir dor e sofrimento desnecessários, nas mesmas e já sabemos que as famílias são o microcosmo do mundo! Portanto, transformar uma família é transformar o mundo! Há esperança! Como diz Gabor Maté, “tudo é possível!”

Quantas vezes paramos para observar o movimento que emerge no nosso corpo (mente somática)? E para investigar a verdadeira causa do desconforto, sobretudo quando é frequente? Ou a causa da adição (que é um sintoma) que temos e pode ser qualquer uma, passar demasiadas horas nas redes sociais, comer excesso de doces, necessidade exagerada de sexo, pornografia, de limpeza, álcool, horas a fio em exercício físico…?

Todas elas são expressões de traumas, a grande parte congelados na 1.ª infância. Partes nossas que continuam por ser vistas, reconhecidas, acolhidas e transcendidas.

Mas afinal, o que é um trauma?

Existem várias descrições. Na Parentalidade Generativa estão presentes as de Gabor Maté e do Dr. Peter Levine (continuo a assistir às suas aulas on-line), e cujos ensinamentos são parte da certificação Practitioner em Trauma & Resiliência, do HeartMath Institute (a qual frequentei). O trabalho de ambos conecta com o que a Programação Neurolinguística (PNL), sobretudo Judith DeLozier (a mãe da PNL e responsável pela introdução da mente somática neste campo), nos diz relativamente ao tema, desde há pelo menos 40 anos.

“Trauma não é o que nos acontece. É o que acontece dentro de nós, como resultado do que nos aconteceu.”
Gabor Maté

“Trauma não é o que nos acontece, mas o que guardamos dentro de nós, na ausência de uma testemunha empática.”
Dr. Peter Levine

Em consequência, o que acontece é que nos desconectamos das nossas emoções e do corpo. Temos dificuldade em estar presente no aqui e agora e desenvolvemos uma imagem negativa de nós próprios, do nosso mundo. Começamos a defender-nos dos que nos rodeiam, mesmo quando nos querem bem.

Um trauma pode surgir de eventos que aconteceram e não deviam ter acontecido ou quando coisas boas que deveriam ter acontecido e não aconteceram. E pode também passar de geração em geração – trauma geracional (como vos explico no meu último livro “Gurus de Palmo e Meio” – até que alguém tenha a coragem de o curar.

Qual o maior desafio de um trauma?

Não é apenas reconhecer o que aconteceu no passado, até porque muitas vezes, é totalmente desconhecido, mas sobretudo, reconhecer as suas manifestações no presente e manifestam-se no corpo, é lá que estão armazenadas.

Como é possível uma criança ser traumatizada?

Para Gabor Maté, existem particularmente duas formas:

Uma é a criança ser vítima de violência familiar – agressões físicas, verbais, castigos, negligência… Outra é ao não ver as suas necessidades atendidas – conexão, amor, compreensão, não ser vista, reconhecida e aceite por quem é, em vez de quem gostariam que ela fosse.

Parece-me muito claro que podemos fazer diferente do que tem vindo a ser perpetuado desde há séculos. É mesmo essa a proposta da Parentalidade Generativa e é por isso que vamos continuar a trazer luz a este tema, numa comunidade global, alargada e generativa, em prol de algo maior.

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