O segredo das famílias mais felizes na Terra
Isabella Arendt trabalha como analista no Instituto de Pesquisa sobre a Felicidade, na Dinamarca. Este Instituto mede a qualidade de vida, examinando diferentes dimensões, como a dimensão cognitiva, afetiva e eudemónica. Isabella está a fazer um Mestrado em Ciência Política na Universidade de Copenhaga. Escreveu a sua tese de Licenciatura sobre as políticas de família na Dinamarca. Intervém na política dinamarquesa e tem um interesse pessoal sobre políticas de família e no equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal, com o objetivo de tornar crianças e adultos mais felizes, descobrindo padrões comuns nas pessoas felizes e aplicando-os para aumentar a felicidade global.
«Muitas vezes vemos as crianças a assumir responsabilidades desde muito novas e são convidadas a participar. São educadas para terem consciência da sua responsabilidade de contribuir para a sociedade e para cuidar dos outros.»
Que aspetos fazem a diferença nas famílias dinamarquesas?
Para as famílias dinamarquesas, é normal que ambos os pais trabalhem e é muito comum que todas as crianças estejam em jardins de infância. Muitas vezes dentro da oferta pública. Também é comum viverem juntos em família, ter irmãos e avós que vivem mais longe, espalhados pelo país. Educar os filhos na Dinamarca é torná-los independentes e criar adultos responsáveis. Muitas vezes vemos as crianças a assumir responsabilidades desde muito novas e são convidadas a participar. São educadas para terem consciência da sua responsabilidade de contribuir para a sociedade e para cuidar dos outros.
Existe alguma “fórmula” no subconsciente coletivo dinamarquês para que as famílias vivam em harmonia?
Muitas famílias querem viver em harmonia. Mas a taxa de divórcio na Dinamarca é também muito elevada. Por isso acredito que muitos dinamarqueses desejam poder procurar sempre aquilo que acham melhor para si. E por vezes isso não significa manter a família junta. Os dinamarqueses prezam a sua liberdade como um valor igualmente importante.
«Na Dinamarca temos uma cultura em que as crianças aprendem a entender a mensagem e assumir a responsabilidade, em vez de terem castigos físicos.»
Em muitos países europeus, gritar, dar uma palmada e castigar as crianças são comportamentos socialmente aceites e defendidos. O que pensa destas práticas?
Na Dinamarca, a lei proíbe bater em crianças ou magoá-las seja como for. E na Dinamarca temos uma cultura em que as crianças aprendem a entender a mensagem e assumir a responsabilidade, em vez de terem castigos físicos.
Como é que acha que podemos educar para a felicidade?
Primeiro devemos ter consciência da nossa própria felicidade. Somos responsáveis pela nossa própria felicidade – e somos responsáveis pela felicidade das pessoas à nossa volta. Depois, podemos educar informando as pessoas sobre o que leva à felicidade. Isso significa, por exemplo, que as relações sociais e uma boa saúde são mais importantes do que um aumento dos rendimentos. No Instituto tentemos educar e informar as pessoas. E esperamos chegar a muitas pessoas todos os anos e fazê-las trabalhar na criação da felicidade.
«Somos responsáveis pela nossa própria felicidade – e somos responsáveis pela felicidade das pessoas à nossa volta.»
Como é que podemos libertar uma mãe do peso de uma família?
Achamos que as mães costumam ser felizes nas suas famílias, mas também vemos que existe uma coisa chamada “vazio parental”, em que os pais sentem uma diminuição da felicidade quando têm filhos, mas depois um aumento quando têm netos. Achamos que isto se deve às preocupações que surgem quando temos filhos. Isto pode ser evitado com boas políticas de família, como se faz nos países como a Dinamarca, a Suécia e a Holanda. Aqui o vazio é menor, porque os pais não têm de se preocupar com escolas ou hospitais para os seus filhos. Existem bons apoios para as crianças e muitas maneiras de ser família, que facilitam que cada um encontre a forma que melhor se adapta à sua própria família.
Bondade, confiança, empatia, igual valor… estes elementos são a chave para uma família feliz?
Sim, acreditamos que laços sociais fortes e saudáveis são importantes. E os valores que refere são positivos na criação de fortes laços sociais, bem como a liberdade para fazermos as nossas próprias escolhas na vida.
O que falta fazer para termos um mundo em que as famílias vivam em harmonia, e em que prevaleça o igual valor e a responsabilidade?
Acreditamos que ter boas políticas de família e uma consciência política para cuidar das necessidades das famílias e das crianças são passos importantes para alcançar esse objetivo.