Quatro princípios japoneses da comunicação
Gosto de muitos aspectos da cultura japonesa, sobretudo dos quatro princípios japoneses da comunicação, herdados do budismo. Tenho a bênção de ter amigos nipónicos e de conhecer várias cidades e práticas japonesas. Este ano, a Covid19 trocou-nos as voltas e o curso de Parentalidade Generativa, em Tóquio, aguarda luz verde para 2021. Até lá, vou praticando (também) os quatro princípios japoneses da comunicação. Até porque, o mundo está a experienciar um momento colectivo de caos e está mergulhado em excesso de ruído.
Vantagens da prática dos quatro princípios da comunicação japonesa
Já partilhei contigo que fui jornalista (“saí do jornalismo”, mas ele nunca saiu de mim) e que sou licenciada em Ciências da Comunicação. Durante 16 anos acreditei que sabia comunicar. Sim, sabia colocar perguntas incomodas e transmitir acontecimentos, ainda assim, comunicar, como entendo ser (hoje) a sua verdadeira missão, eu andava tão longe de saber o que era.
Ao fazer o meu PNL Practitioner mudei a forma como comunicava comigo e com os outros, transformei por completo a minha vida. A minha auto-estima recebeu um up-grade, a auto-confiança também, reduzi o stress e alguma sensação de culpa que às vezes me assolava, por ser, até então, demasiado compulsiva e frontal na forma como comunicava o que pensava e sentia. Passei a identificar e a compreender, mais facilmente, as minhas emoções, sentimentos, desejos e necessidades, assim como os dos que me rodeiam. As intenções tornaram-se claras e o que os outros pensam, relativamente a mim, ou ao que digo, faço, deixou de ser problema meu. A minha comunicação passou a ser verdadeiramente autêntica e congruente.
O bem-estar, na minha dinâmica familiar e profissional, na minha vida, em geral, está agora muito mais presente. Sendo a harmonia uma prioridade na cultura japonesa, a utilização dos silêncios e das palavras são copiosamente ponderados. Ou seja, a forma como comunico comigo, com o outro, como conecto e crio relação. Existem quatro fundamentos que devem ser protegidos, com a intenção de elevar a consciência colectiva. Assim, os quatro princípios da comunicação japonesa são a verdade, a amabilidade, a utilidade e a harmonia.
I – Verdade
Para que se cumpra, gosto de ter presente o pressuposto da Programação Neurolinguística (PNL) que nos diz que o mapa não é o território. Ou seja, que a realidade é apenas o conjunto das minhas representações internas e não a realidade, em si. Reajo ao que acredito ser a realidade. Começo então, por investigar o que é verdadeiro para mim e só quando o sinto no coração, devo expressar aos demais.
II – Amabilidade
Posso ser sincero, respeitando o outro, sem ser cruel. O respeito pelo mapa mundo do outro – já que a experiência objectiva não existe – é condição essencial para que emerja uma comunicação autêntica e congruente, que conecta e cria relações. Com amabilidade e generosidade.
III – Utilidade
É por isso que o silêncio é de ouro. É aquele espaço natural para que a escuta activa aconteça. Sem ela não existe comunicação autêntica. Falar por falar conduz a lugares longe de serem férteis, para ti e para a humanidade. Cria ainda mais ruído.
IV – Harmonia
Todas as palavras, todos os silêncios são válidos desde que promovam a paz, o balanço e a harmonia. Caso contrário, a comunicação gera mal-entendidos, desconexão e guerra, entre os seres humanos. A mensagem deve ser clara e objectiva, sem rodeios, floreados ou subtilezas, considerados pelos japoneses como ruídos na comunicação.
Os três macacos da comunicação
No Japão, no Santuário Toshougu, na cidade de Nikko, estão esculpidos na porta do Estábulo Sagrado, três macacos. Diz a lenda que eram os mensageiros enviados pelos deuses para denunciar as más acções dos humanos. Cada um tinha duas virtudes e um defeito:
- Kikazaru (macaco surdo):
Responsável por utilizar a visão para observar os que realizavam más acções e transmitir a Mizaru; - Mizaru (macaco cego):
Não precisava da visão, já que era responsável por levar a mensagem de Kikazaru até o terceiro macaco, Iwazaru. - Iwazaru (macaco mudo):
Escutava as mensagens transmitidas por Mizaru para decidir qual a pena dos deuses para cada má acção e garantir que era cumprida.
Na prática, os três macacos comunicam-nos: “não ouças o mal”, “não fales o mal” e “não vejas o mal”. A forma mais disruptiva de romper paradigmas disfuncionais. Embora haja dias desafiantes, procuro olhar para dentro de mim, atentamente, aplicando a lenda dos três macacos, promovendo uma comunicação autêntica e congruente comigo e com o outro, criando harmonia.