Parentalidade com controlo e hierarquia ou com aceitação e holonarquia?
Os acontecimentos das últimas semanas, isolamento social “forçado”, consequência da Covid – 19, podem ter despertado em nós, alguma tendência para, em alguns momentos, regressarmos ao velho paradigma da parentalidade com controlo, uma parentalidade de hierarquia, que nos distancia da aceitação e da holonarquia (praticada na Parentalidade Generativa).
É natural. As emoções geradas pelo desconhecido, acordam em nós medo e ansiedade – porque nos transportam para o passado ou projectam para o futuro, afastando-nos do único momento que temos, o presente. Somos humanos. Mas somos também natureza e acredito que estes tempos estão aqui para que ganhemos, colectivamente, de uma vez por todas, a consciência dessa realidade, tantas vezes dolorosa. Só esta semana, perdemos um amigo de longa data, para a pandemia, também a mãe de uma amiga e colega partiu, pelo mesmo motivo. Dói e volta a lembrar-nos, da forma mais cruel, que somos apenas energia.
Estamos todos em transição, como de resto acontece ao longo de toda a vida. Caminhamos entre o antigo paradigma e o novo, aquele que ainda não é. Estes dias são por isso, um lugar estranho e assustador, no qual nunca estivemos antes e exigem resiliência, porque acordam a nossa vulnerabilidade. Ainda assim, é possível quebrar resistências à mudança.
O estado CRASH na Parentalidade com controlo e hierarquia
Surge do lado do ego, como forma de sobrevivência. Há um novo caminho neuronal que ainda não teve tempo para ser consolidado e o medo, pode acordar o gigante que acredita na ilusão de que ao controlar, está a garantir a segurança necessária para atravessar este momento. Mas não. Na vã tentativa de controlar, mergulhamos no estado CRASH (descrevo todo o processo em “Gurus de Palmo e Meio”).
Quando isso acontece, somos atravessados por um bloqueio neuromuscular que resulta em cenários como apatia, depressão, medo, ansiedade, tristeza profunda, dificuldade em libertar, em deixar ir, confusão, conflito, frustração…. Neste estado, só é possível ver problemas sem solução.
C – Contraction | contração neuromuscular | paralisia | congelamento
R – Reaction | reação | reclamação | vitimização | repetição de comportamentos
A – Analysis Paralysis | paralisia por análise | excesso de análise cognitiva, que é quando entramos na espiral, no looping daquelas conversas que criamos na nossa cabeça, do diálogo interno que nos leva sempre ao mesmo lugar, tal e qual a roda de um ratinho | O que faço agora?
S – Separation | separação | lutas internas | partes em conflito | desconexão com o corpo
H – Hurt and Hatred | dor | ódio | sofrimento | sem saída | hostilidade
O estado COACH na Parentalidade com aceitação e holonarquia
Surge, então, uma oportunidade para nos questionarmos com sinceridade e autocompaixão. Agradecemos a intenção positiva do ego, que quer transmitir segurança, controlo, ambição, sobrevivência… e seguimos em frente colocando questões como:
- Quem sou eu para além desta situação desafiante?
- De que forma posso atravessar a crise sem me tornar a própria crise?
- De que forma posso ser o melhor exemplo para o meu filho?
O corpo está a enviar sinais claros de que é o momento de parar! Está a comunicar que só devemos avançar quando estivermos mais inteiros, que chegou o tempo de cuidar da nossa interioridade. Longe de ruídos externos (e, além do caos natural, há demasiado ruído externo, agora). Sejamos generosos e bondosos connosco.
É o momento de nos conectarmos com a nossa essência (que é apenas energia), com amor e muita flexibilidade. Permitir deixar partir o que já não serve, criando espaço para que o novo paradigma possa cimentar-se. Estando presentes nas nossas vidas, arrumando e alinhando o lado de dentro, entrando num estado de excelência interior, num estado generativo, ao qual chamamos estado COACH.
Assim, abrimos o canal e recebemos informação nova, que chega de algo maior do que todos nós. Dou-te um exemplo: Quando estás online e o teu telemóvel ou tablet está conectado com a cloud, recebe e envia informação em tempo real, seja de que parte for do mundo. Podes até descarregar aplicações e aumentar as possibilidades dos aparelhos. Também podes partilhar informação com outros aparelhos. Depois de estar na cloud, toda essa informação pode ser imensamente difundida. Se o telemóvel ou o tablet estiverem desconectados da internet, ficas limitado à informação que contenham na memória. O nosso sistema nervoso é semelhante aos aparelhos. As nossas células nervosas formam um circuito onde correm vários programas e aplicações.
No estado COACH acedemos à nossa inteligência, à inteligência colectiva, aos recursos infinitos.
C – Centered | centrado | presente no corpo
O – Open | aberto às infinitas possibilidades, ao outro e ao mundo
A – Aware and mindful| consciente e alerta | desapegado de crenças, valores, preconceitos
C – Connected | conectado às três mentes: somática, cognitiva e de campo
H – Holding | acolhendo tudo o que possa surgir de novo dentro e fora de si, com curiosidade e hospitalidade
Em 24 horas, experimentamos os dois estados mais do que uma vez. Que em consciência saibamos identificá-los e escolher o estado COACH, aquele que nos abre às infinitas possibilidades.
Até porque, como nos disse Aristóteles, “somos o que repetidamente fazemos. A excelência não é um acto, mas um hábito.”
Continuamos juntos, a acolher, integrar e transcender.
Com carinho e esperança,
Rita