A guerra aos olhos das crianças
Estamos a criar diariamente, um mundo melhor, no qual ainda é preciso estar atento a uma realidade: a guerra aos olhos das crianças.
Não vale a pena esconder. Os nossos filhos vivem num mundo real, não crescem em redomas. Negar a situação como mecanismo de defesa, produz uma perda da consciência da humanidade. É importante explicar-lhes o que se passa. Mostrar, seleccionando as imagens e os sons (de acordo com a idade e sensibilidade da criança). Aos cinco anos, as crianças já conseguem distinguir a realidade da ficção quando veem alguém imprimir mal a terceiros. Evita as imagens dramáticas, para não aumentar receios e angústias. Contextualiza sempre a situação. Revela os valores e intenções das duas partes da barricada.
A guerra aos olhos das crianças, é sempre diferente da nossa. Aqui, e porque estamos a viver uma guerra de perto, a da Venezuela (país onde nasceu o pai e a filha mais nova, onde já vivemos e onde o pai ainda trabalha), revelo-lhes imagens de esperança, por entre as bombas lacrimogénias lançadas no solo e até de helicóptero. Mostro-lhes que há sempre espaço para defender os nossos valores, mesmo a fugir das balas. Espaço para exigir a liberdade, a dignidade, a paz e a justiça. Para exigir igualdade de direitos entre todos os seres humanos.
A guerra aos olhos das crianças deve ser a de que é possível criar um mundo melhor e que para isso, há escolhas pesadas, com consequências duras. Mas a escolha que nos liberta é sempre a de marchar, envoltos em fé, a mesma fé que ocupa o lugar do medo e cria espaço para a paz, mesmo que por entre sangue derramado. Esse, jamais será em vão.
A guerra aos olhos das crianças vê soldados a renderem-se aos direitos humanos e aos ideais mais nobres que nos conotam como raça. Vê polícias a ajudarem manifestantes, vê avós amparados por netos, gritarem alto que a liberdade vencerá! Vê médicos saírem de uma clínica que acaba de ser atacada (a mesma onde as minhas filhas chegaram a ser observadas), com um bebé recém-nascido em braços, saltarem para uma carrinha de caixa aberta e saírem em alta velocidade para o salvarem noutra clínica próxima. Vê mulheres armadas com gritos que soltam palavras de amor.
A guerra aos olhos das crianças vê o amor e a esperança renascerem no meio do caos e da destruição. Vê a construção da paz e vê também que vale sempre a pena lutar pelo que acreditamos e faz bem à humanidade. Nada tem significado a não ser o que cada um de lhe atribui. Aprendamos todos com elas.