Feminismo e Educação no século XXI não faz sentido… ou talvez faça
Quando, há quase 12 anos, engravidei pela primeira vez, depois de me envolver na bênção e na alegria que é esse estado, pensei (durante quase dois meses): “Aí vem um menino tão fantástico quanto o pai dele e o meu pai!”, até que senti que algo naquela afirmação era totalmente incongruente com a minha essência, com os meus valores e intenções e dei comigo a questionar as minhas crenças inconscientes: “Feminismo e Educação no século XXI não faz sentido… ou talvez faça, Rita!”
Faz!! Faz tanto sentido! Queres ver?
Depois do que experimentei na minha primeira gravidez, comecei a investigar – também com colegas (mulheres e homens) da IAGC – o que é afinal o feminismo (algo que continua a confundir-se com a queima de soutiens). Passei a integrar o conceito nas minhas práticas diárias e ainda tenho tanto para descobrir sobre o tema que é também um dos pilares da Conscious Systems.
Em duas das minhas muitas participações em palestras e programas de televisão sobre Parentalidade e Igualdade de Género, encontrei “especialistas” (curiosamente mulheres portuguesas) que defendem que a igualdade de género nada tem a ver com Feminismo. Que “isso do Feminismo é coisa de mulheres frustradas, de esquerda e anti-família”, tal e qual o que me respondeu uma destas senhoras que tem voz nesta matéria, em Portugal. Portanto, acredito que, falar do problema é falar da solução. Ganhar consciência da urgência de transformar estes tabus pode ser um primeiro passo.
Acredito no Feminismo, não por ser mulher, não por ser mãe de duas Meninas, acredito no Feminismo porque é sobre Direitos Humanos, Direitos das Mulheres, Direitos das Crianças, Direitos dos Homens, Direitos do Heterossexuais, Direitos dos Homossexuais, Direitos do Transgénero. E acredito que é por ser um conceito tão universal, uma forma de criar paz e harmonia no mundo que continua a incomodar os que ainda vivem presos a crenças culturais e religiosas castradoras das liberdades individuais.
Óbvio que biologicamente, Homens e Mulheres são diferentes, nunca esteve em causa e ainda bem que assim é. A questão do Feminismo coloca-se noutras frentes.
Quando te disse que Feminismo e Educação no século XXI não faz sentido… ou talvez faça, quero lembrar-te dos discursos de políticos, vindos de Homens – líderes mundiais, visceralmente sexistas e violentos contra as Mulheres, das abismais desigualdades entre Homens e Mulheres, nas assombrosas diferenças salariais entre ambos – quando Homens e Mulheres desempenham a mesma função e detêm as mesmas competências – quando no topo dos grandes palcos políticos e empresariais são os Homens quem ocupa os lugares de cimeira, quando nos jardins-de-infância e nas escolas do primeiro ciclo continuam a ser as Mulheres em maior destaque, quando na maioria dos lares continuam a ser as mães a assumirem a gestão da família o que inclui educação dos filhos, cozinhar, lavar roupa, engomar, nos anúncios em que o Homem aparece como uma figura máscula e a Mulher frágil e dependente, em tantas histórias infantis onde a Mulher surge como submissa…
E continuo a dizer-te que Feminismo e Educação no século XXI não faz sentido… ou talvez faça porque continuam a fazer-se julgamentos altamente depreciativos em relação a Mulheres que são sexualmente abusadas, fisicamente mal tratadas, psicologicamente devastadas, seja pelos seus maridos / companheiros, por estranhos, chefias e, cada vez mais, na relação do namoro! Porque continuam a existir redes de escravatura, prostituição e tráfico de Mulheres e de Meninas … E a lista parece não ter fim.
Muito já se avançou, continuemos então, a ser o exemplo do que queremos ver no Mundo. Guiemos as nossas famílias para que a missão prossiga com sucesso, para contrariar a visão restrita das mulheres. Ao melhorarmos as condições de vida de uma mulher, estamos implicitamente, a melhorar as condições de vida de toda uma comunidade. Os reflexos são imediatos, na sua auto-estima, auto-imagem, auto-confiança, nas suas intenções e objectivos. Cabe-nos a todos, apoiar todas as mulheres, todos os homens, todas as crianças, para que reconheçam comportamentos inadmissíveis, para que se defendam e para estabeleçam os seus limites de forma saudável.
E aqui, acredito que começa em casa e na escola, na forma como educamos as nossas crianças. No Mom’s Rules – Parentalidade com PNL e Generativa exploramos muito este tema e partilho muitas das práticas que introduzimos (eu e o meu marido, sim ele também é Feminista e ficou em casa, com a nossa primeira filha, até que ela completasse os nove meses) na dinâmica da nossa família.
Feminismo e Educação andam assim de mãos-dadas
- Em casa há partilha. O pai e a mãe partilham tarefas domésticas, questões relacionadas com a educação dos filhos, com a gestão da família. São o exemplo que querem ver nos filhos e no mundo.
- Trabalha o teu sistema de crenças:
Homens e Mulheres podem desempenhar as mesmas funções, ocupar os mesmos cargos, independentemente da cor, religião, orientação sexual;
Meninos e Meninas podem ambos pintar as unhas, usar cabelo curto ou comprido, escolher a roupa que vestem (sem esperarem validação externa), subir às árvores, jogar futebol, fazer ballet, serem super-heróis ou brincarem com varinhas mágicas… A auto-estima agradece;
Meninos também choram, também são calmos e queridos!
(Não têm que ser sempre apelidados de campeões e super-heróis)
As Meninas não têm que estar sempre sossegadas, também são inteligentes, curiosas e criativas!
(Não têm que ser sempre adjectivadas de bonitas e queridas)
Meninos podem vestir cor-de-rosa e Meninas azul.
Homens podem casar com Homens, Mulheres podem casar com Mulheres, existe amor, existe respeito, está tudo certo.
A diferença é o que nos torna únicos!
- Nunca obrigues uma criança a beijar ou a abraçar alguém contra a sua vontade. Se o fizeres, ela acredita que o terá de fazer ao longo de toda a vida e isto pode impossibilitá-la de defender-se em caso de tentativa de abuso, por exemplo. Educa sem palmadas, sem obrigares a cumprir ordens ou o teu filho vai acreditar que alguém, mais forte do que ele tem direitos sobre si, que ele não é dono do seu corpo, nem da sua vontade. Além disso, um dia, essa criança pode ser o elemento mais forte e vai comportar-se como tal, assumindo o direito de não respeitar o próximo. Respeita os limites pessoais dos teus filhos! Liberta-te da crença de que a criança te diz “não” só para te testar e contrariar. Quando uma criança diz “não” é mesmo a sério. Conecta-te e investiga.
- Escuta e observa as emoções, opiniões, constatações e desejos dos teus filhos, sem julgamentos e com presença. Com limites que façam sentido a todos, com igual valor e amor incondicional.
- As Meninas dispensam serem sempre salvas por príncipes e podem ser elas mesmas bombeiras, polícias, militares, cientistas… Dispensam pilotar sempre os fogões, preferem aviões e foguetões.
- Conta-lhes histórias de Homens e Mulheres reais, que se notabilizaram no mundo (na vossa família, na local onde vivem) por terem respeitado os Direitos Humanos.
«She believed she could, so she did.»
A minha filha mais nova, aos dois anos começou a dizer que vai ser a primeira bailarina astronauta, na NASA. Hoje, aos quatro, mantém a afirmação, acrescenta que é uma “bailarina astronauta das estrelas” e continua a vibrar e a divertir-se muitíssimo mais nas visitas e explorações que faz nos centros espaciais da NASA do que em qualquer Disneyland que visita. E sim, também gosta de vestir cor-de-rosa, usar saias de tule e gosta de princesas, só que lhes atribui competências de astronautas e cientistas.
Acredito enquanto mulher, mãe e profissional da IAGC, que podemos tornar o nosso Mundo num lugar ainda mais pacífico e harmonioso: E sabes uma coisa? Além de acreditar, sinto que faço isso, todos os dias. Convido-te a explorares algumas afirmações conscientes que podem despertar-te, ajudar-te a quebrares o preconceito e a seguires em frente, rumo ao teu propósito.
Desejo-te um dia, uma semana, uma vida, muito feliz e feminista!