Famílias generativas praticam holonarquia em vez de hierarquia
A parentalidade que emerge da necessidade de controlo, tende a ser autoritária, promovendo desconexão, e estando na base da cultura de obediência que, por sua vez, assenta no modelo hierárquico, ao contrário do praticado na Parentalidade Generativa, que emerge da holonarquia (já lá vamos).
O nome do meu último livro, “Gurus de Palmo e Meio”, surge por acreditar, por experiência, que os nossos filhos revelam-nos onde podemos ainda crescer, são verdadeiros mestres que permanecem (até aos sete anos, aproximadamente) próximos da sua essência (que mais não é do que energia única). Ainda não tivemos (nós, pais e educadores) tempo útil de vida para lhes instalarmos uma série de filtros (70% deles a retirarem-lhes poder pessoal). Os nossos pequenos gurus são exímios praticantes da holonarquia.
Portanto, na Parentalidade Generativa, existe conexão, de ti para contigo, para com o teu filho, com o campo e com algo maior. Ou seja, sentimos, claramente, que o que acontece a um, reflecte-se no todo e vice-versa. Esta, é uma proposta absolutamente sistémica.
Não é sobre perfeição, é sobre conexão!
As famílias generativas têm presente o legado da mãe da Terapia Familiar Sistémica, Virgínia Satir, “a vida não é o que se supõe que deveria ser. É o que é. A maneira de lidar com ela é o que faz a diferença”.
Holonarquia em acção nas famílias generativas
Um holón é algo que é simultaneamente em si próprio inteiro, ao mesmo tempo que é parte de um todo, assim como um átomo é completo e parte de uma molécula. Uma molécula também é um holón, em si completa e parte de uma célula. E uma célula é, em si inteira, parte de um tecido. Este tecido é um holón, em si completo e parte de um órgão. Um órgão é, em si completo e parte de um organismo, até ao infinito. E também o homem é parte de uma família, que é em si, parte de uma tribo ou sociedade que por sua vez, é parte de um país ou nação, inserido num planeta que é parte de um Sistema Solar, numa Galáxia. Falamos de sistemas e subsistemas. Gosto de ilustrar a holonarquia com o conceito do poeta sufi, Rumi, “não sou uma gota no oceano, sou todo o oceano numa gota.”
A Parentalidade Generativa reconhece assim, que cada indivíduo do sistema, traz algo para contribuir para o todo e que essa contribuição é a diferença que faz a diferença no funcionamento global. Todos somos diferentes, únicos. Cada um percorre um caminho, tem uma história. Por isso, nas famílias generativas, deixa de haver espaço para comparações e rótulos, que rasgam feridas onde emergem sentimentos de culpa, vergonha e insuficiência.
Como praticar a holonarquia na família?
Aceita, acolhe, integra, transcende. Muda de lentes, de filtros, de prespectiva. Sim, no início pode causar calafrios na barriga (no teu cérebro entérico) e é normal, estás a sair da tua zona de conforto e pode causar medo e, num primeiro momento, tender a reconduzir-te para o modelo que conheces, o hierárquico.
Na proposta praticada pelas famílias generativas, não há um ou dois que mandam e os outros obedecem. Há diálogo. Há espaço seguro para que cada um manifeste opiniões, desejos, necessidades, emoções e o seu dom único. Sem julgamento. Com escuta. Pratica-se igual dignidade. Cada um assume responsabilidade pessoal. Existe congruência, autenticidade e inclusão. E os pais são exemplo, sabem que não é o que dizem, é sim, o que praticam.
A experiência mostra-me, cada vez mais, que quando estás realmente presente, quando te conectas emocionalmente, fisicamente e espiritualmente contigo, com o teu filho, alinhado com algo maior é com o campo, crias relações autênticas e harmoniosas.
Se nunca mais surgem conflitos? Surgem! Mas muito menos vezes, muito mais leves e com a diferença de que, quando praticas a proposta da da Parentalidade Generativa, percebes quando estás a entrar em terreno pantanoso e sabes como e para onde dirigir a embarcação e atravessar os momentos desafiantes, sem que eles vos atravessem. Basta que te (re)conectes com as intenções.
Agora, respira fundo, acede ao teu centro, ao teu coração, escuta o que eles te dizem. Está tudo certo, está tudo bem.